quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Antonio do Carmo: RESENHA DO DOCUMENTÁRIO ALÉM DO CIDADÃO KANE

RESENHA CRÍTICA: DOCUMENTÁRIO “MUITO ALÉM DO CIDADÃO KANE”

TÍTULO ORIGINAL: Beyond Citizen Kane. Título Traduzido: Muito Além Do Cidadão Kane. Release: ProFil.
ORIGEM/ANO: 1993
GÊNERO: Documentário.
DURAÇÃO: 90 m, 304 MB.
DIREÇÃO: Raoul Simon Hartog.
DEPOENTES: Leonel Brizola; Chico Buarque; Dias Gomes; Washington Olivetto; Virgílio Moretzsohn; Armando Rollemberg; Rômulo Furtado; Milton Tavares; Armando Falcão; Renê Dreifuss; Wallach; Dr. Sérgio Matos; Maria Rita Kehl, Luís Inácio Lula da Silva; Valter Clark.

O Documentário inicia com a seguinte narração: “A Rede Globo se orgulha do fato de que apenas três redes de televisão americana são maiores do que ela, mas nenhuma tão poderosa. O poder da Globo é reforçada diariamente por imagens maravilhosas e por uma repetição excessiva de sua identidade na tela. Roberto Marinho, 87 anos, é dono da Rede Globo de Televisão. Seu cartão de visita ,entretanto o apresenta apenas como jornalista!”.
Leonel Brizola a ele assim se reportou: “Costumamos dizer que ele é uma espécie de Stálin das comunicações em nosso país. Quem não concorda com ele, ele manda para a Sibéria. Sibéria do gelo, do esquecimento!”
Chico Buarque complementou: “Eu acho que ele é mais importante que o Cidadão Kane. O cidadão Kane nunca imaginou que ele tivesse esse poder todo! Roberto Marinho é a força política mais importante desse país, um país de 150 milhões de habitantes. Nada se faz sem consultar Roberto Marinho. É assustador!”
Os depoimentos acima revelam um pouco do conteúdo do documentário, revelando o domínio da TV Globo na imprensa brasileira envolvendo contratos ilegais com empresas estrangeiras, um apoio incondicional aos governos ditatoriais no Brasil e tudo o que estivesse ao seu alcance para garantir seus interesses, o que inclui até a manipulação de debates políticos para eleger o governo, como ocorreu no caso Collor de Mello. Mais do que isso, o filme explica como funciona a política brasileira de comunicações e os critérios arbitrários pelos quais se concedem e se renovam as concessões de canais de televisão e rádio. Produzido em 1993 por Simon Hartog para o canal inglês, Channel 4, contando assim a história da Televisão no Brasil, sendo dividido em quatro partes, assim resumido:
1ª PARTE: é um retrato sócio-econômico e político da época, onde nem todos estão felizes, pois mesmo sendo a 10ª economia do mundo, estava em 3º lugar na pior distribuição de renda, com 60 milhões dos 150 milhões de habitantes vivendo na pobreza total, vítimas de um sistema chamado capitalismo selvagem, onde 50% do território pertencia a 1 % da população, motivando assim a luta dos sem-terras e dos trabalhadores urbanos pela sobrevivência, cujo direito de um carregador de carne era apenas de carregá-la, contrapondo-se ao cachorrinho de madame que tinha o privilégio de comer duas vezes por dia, arroz, legume, carne moída e frango. Neste cenário, a televisão alcançava um índice de mais de100 milhões de habitantes, com mais de 200 canais particulares e alguns públicos, existindo então quatro redes locais: a Bandeirantes, de João Sayad, voltada para esportes; A Manchete de Adolfh Bloch e o SBT de Sílvio Santos, competindo pelo 2º lugar, e a Rede Globo de Roberto Marinho como 1ª no Brasil, com aproximadamente 15 mil funcionários, incluindo cerca de 500 escritores e atores, tendo quase o mesmo tamanho da BBC, cobrindo 99,2 % do território, com 99% dos aparelhos conectados, alcançando o índice de 78%, exteriorizando assim sua dominação no Brasil.
Para DIAS GOMES, “o povo, a cabeça do povo é que faz a televisão, sendo a televisão no Brasil, um reflexo do próprio povo, o que ele pensa, o que ele quer, pois é uma televisão comercial e por isso precisa do 1º lugar , precisa ter rede no IBOPE”.
Patrocinadores como NESTLÉ, ESSO, TOPPER, BIOTÔNICO, STAROUP, RON BACARDI, BANCO NACIONAL além de apresentarem produtos aquém das possibilidades da população, exigiam silêncio sobre comentários desagradáveis sobre seus produtos, cujos consumidores, pertenciam a uma elite privilegiada, confirmado por WASHINGTON OLIVETTO que disse: “a publicidade é melhor que nosso país”, ou mesmo fora da realidade como o comercial sobre o Banco Nacional apresentado por AIRTON SENA como rápido poupador.
Num país cuja maior parte da população era analfabeta, o crítico literário, VIRGÍLIO MORESTZSOHN, assim se expressou: “lê é a arte de desfazer nós! E a pessoa alfabetizada lê. E a pessoa que lê, desfaz esses nós”. A concessão de um canal de televisão era exclusividade do Presidente da República, concedido à amigos e para servir a interesses políticos, como bem se expressaram ARMANDO ROLLEMBERG, Presidente da União dos Jornalista, e RÔMULO FURTADO, Secretário Geral dos Ministério das Comunicações de 1974 a 90, lembrando que jamais seria dado um canal para inimigos. Para MILTON TAVARES, não havia nenhum impedimento sobre concessão de canais de televisão á políticos, que não podiam figurar como diretores, mas podiam ser o dono. A transmissão ao vivo do carnaval do Rio de janeiro era a apoteose da televisão brasileira. Sílvio Santos ficou super rico com seu Baú da Felicidade. No entanto muitos não mantinham seu pagamento por muito tempo. Seus prejuízos eram lucros para Sílvio Santos. Chacrinha, por seu perfil anárquico, contraditório para o sistema, foi retirado do ar por 10 anos, pela Rede Globo. Faustão dominando as ardes de Domingo, apresentava um program misturando músicas, olimpíadas bobocas e tragédias domésticas. O show da vida, referindo-se ao Fantástico, utilizava notícia, diversão e falso otimismo
A televisão no Brasil teve início em 1950, com a TV TUPI, em São Paulo, fundada por Assis Chateaubriand, destinada a um público elitizado. Em 1955, assume a Presidência da República, JUSCELINO KUBSTICHEK que propôs fazer o Brasil crescer, 50 anos em 5, trazendo o fusca de fabricação nacional, a urbanização da população e a introdução de uma inflação endêmica que agravou a situação da dívida externa. O símbolo dessa mudança é a construção de Brasília, no meio do nada, inaugurada em 1960. Junto, com a TV TUPI, existia a TV EXCELSIOR, cujo pico maior de audiência foi conseguida com a novela “O direito de nascer”.
Em março de 1964, o Presidente João Goulart, ao anunciar estatizações e reformas agrárias mínimas, POR CAUSA DA INSATISFAÇÃO SOCIAL, acelerou o golpe militar que aconteceria no dia 31 de março de 1964, estando por trás do golpe a Escola Superior de Guerra que fora inspirada na Escola Nacional Americana de Guerra, assumindo então o 1º Presidente da Ditadura Militar, General Castelo Branco com o poder de governar por Decretos, tendo como seu 1º ato a criação do Sistema Nacional de Informações – SNI. A Direita foi à rua com 500 mil pessoas na Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Dias depois, no Rio de Janeiro, marinheiros de esquerda ameaçaram uma rebelião. Centenas de pessoas foram presas e entre outros, três ex-presidentes perderam todos os direitos políticos. Em 1965, houve a extinção da democracia multipartidária oficialmente.
Em 1957, Roberto Marinho conseguiu sua primeira concessão de TV de Juscelino Kubitscheck, cujo governo apoiava e a 2ª de Goulart, cujo governo ajudou a depor. No ano seguinte, no dia 26 de abril de 1965, é fundada no Rio de Janeiro, a TV Globo. Para ARMANDO FALCÃO, Ministro da Justiça de 1974 a 1979, Roberto Marinho já apoiava a revolução, bem antes da mesma eclodir. O historiador RENÊ DREIFUSS, não vê Roberto Marinho como um jornalista, mas sim como um astuto empresário, um realista. Em 1962 a TV GLOBO assinou um contrato de assistência com o grupo americano Time Life recebendo um investimento de seis milhões de dólares enquanto a TV Tupi investira apenas trezentos mil dólares. Valter Clarck foi o grande arquiteto da Globo que após quatro meses estava fadada a falir, pois arrecadava 180 e gastava 700. O Presidente Costa Silva deu início ao breve milagre econômico, condenando 60 % da população à miséria, cujo pensamento do regime era: “que os ricos fiquem cada vez mais ricos, para que graças a eles, os pobres, por sua vez,sejam menos pobres”. Criou-se o Ministério das Comunicações visando a Integração e a Segurança Nacional . União para detruir programações locais. A TV Record realizou os festivais onde destacaram-se Chico Buarque com a”BANDA” e Caetano Veloso com “Sem lenço e sem documento”. A Resistência chegou nos finais 1968. 100 mil pessoas fizeram manifestação. Veio o A.I- 5 , o Congresso foi fechado, censura prévia dos meios de comunicação, parte da esquerda optou pela luta armada, ocorrendo o seqüestro do embaixador americano. Torturas, bombardeios era uma rotina e não eram noticiados, com esquadrão da morte ativo. O Teatro que a apresentava a peça Roda Viva de Chico Buarque foi bombardeada.
2ª PARTE: A CPI considerou o acordo da TV Globo com a Time Life ilegal sendo o mesmo desfeito em 1969. Estúdio da Globo em São Paulo incendiou. A televisão não era tanto para entreter o público. A implantação do Jornal Nacional criou a rede. A verdadeira vida política não estava lá, Mas faltava algo, os sindicatos. A TV Excelsior se opôs ao regime, sendo cancelado sua concessão, em 1960. O Presidente Médici criou o slogan: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. A Copa do mundo foi transmitida ao vivo em 1970 e o Brasil foi campeão, sendo explorado essa glória ao máximo. Uma foto do presidente carregando uma bola foi proibido, talvez porque parecia humano demais. Era proibido qualquer notícia sobre declínio e críticas, e qualquer notícia era previamente censurada. Para Chcio Buarque a Rede Globo foi além pois proibiu que citassem seu nome. Em 1981, uma bomba explode em um show no Rio Centro, morrendo um soldado e ferindo outro dentro de um carro, sendo atribuído a extrema esquerda cujas primeiras imagens mostraram uma bomba intacta e não mais mostradas na segunda reportagem. As novelas são o início da supremacia da TV globo. Washington Olivetto acredita que o fanatismo pelas novelas vem da idéia de que a própria criação do país fosse fictício. Para Maria Rita Kehl não é um projeto que se esqueceu da pobreza, da periferia, porque se esquecesse, não daria certo. Contudo serviu como uma maquiagem sobre a realidade.
3ª PARTE: a supremacia da Rede Globo com o advento de suas novelas como selva de pedra; meu bem, meu mal, etc.
4º PARTE: análise de Lula sobre disputa com Collor, entrevista de Roberto Marinho
Para emissão de juízo sobre o documentário, ocorre a necessidade de conhecer resenhas do filme “O cidadão Kane” de 1941 e do empresário William Randolph Hearst (1863-1951), que o inspirou; a biografia de Roberto Marinho e o respectivo documentário, “ Muito Além do Cidadão Kane” e de SIMON HARTOG RAOUL, que o produziu.
“O Cidadão Kane”: baseado na obra de Orson Welles, “O Cidadão Kane” conta a história de vida do jornalista fictício Charles Foster Kane, papel interpretado pelo próprio Orson Welles. O filme tem início com a morte do milionário jornalista Charles Kane, que em seu leito de morte pronuncia sua última palavra antes de expirar: “Rosebud”.
Um grupo de jornalistas inicia, assim, uma investigação sobre a vida pessoal de Kane a fim de descobrir o significado da palavra. É relatado que a mudança na vida pacata de Foster Kane ocorre subitamente, quando sua mãe recebe como pagamento de um pensionista as escrituras de uma mina supostamente sem valor. Mas o fato era que a mina estava cheia de ouro e isso rende à família uma fortuna incalculável. Kane, então, é tirado do convívio de seus pais e levado para ser educado por um grupo de empresários, que o moldam para a vida pública dos magnatas do poder. Cedo Kane compra um modesto jornal e passa a se tornar um jornalista implacável e impetuoso. Sua vida se torna recheada de jogos de interesse, luxo e fama. Em sua velhice, Kane manda construir para si uma enorme e esplendorosa mansão, batizada de Xanadu, em homenagem à mítica cidade asiática, conhecida por seus poetas como a capital do prazer. É lá que, isolado de tudo e de todos, morre, deixando para os personagens do filme o enigma de sua última palavra.
Quase no fim do filme, o mordomo de Kane revela ao repórter investigativo que já ouvira uma vez Kane pronunciar a palavra, e o fora após um acesso de raiva, onde se depara com seu antigo peso de papel – que consiste em um globo de vidro com uma maquete de uma casa dentro, coberta de uma imitação de neve, e que conforme o globo é movido é promovido um efeito de neve dentro dele. O velho magnata o sustenta na mão e pronuncia: “Rosebud”.Em seu leito de morte, Kane está segurando novamente o globo, pronuncia sua misteriosa palavra, e suspira, deixando cair o globo, que termina por se quebrar no chão.
Mesmo este último relato não revela coisa alguma ao repórter investigativo. E ninguém resolve o último mistério de Kane. Porém, nas últimas cenas, quando todos os objetos sem valor do magnata estão sendo incinerados, ao espectador é permitido conhecer o significado da palavra. Em meio aos pertences está um trenó, o mesmo modelo de trenó com o qual a criança Charles F. Kane estava brincando na neve, diante da pensão de sua mãe e é interrompido pelo empresário que o retira de sua família. A marca do trenó: “Rosebud”. Um operário pega o trenó e joga-o no incinerador. O trenó queima, é a última cena do filme.

William Randolph Hearst:
Filho de um senador, George Hearst, dos EUA, William Randolph Hearst era um garoto rico, quando herdou 1887 o controle do San Francisco Examiner e da mineradora. Hearst passou a construir um império editorial que incluiu jornais, revistas, serviços de notícias, emissoras de rádio e estúdios de cinema. Era um praticante descarado do "jornalismo amarelo", e seu entusiasmo pelo sensacionalismo e seu regime autocrático eram lendários. Muitas vezes é acusado de ter cutucado os EUA na guerra hispano-americana de 1898, só para vender mais jornais. Começando na década de 1920, Hearst tinha um casarão construído no centro da Califórnia, chamada de San Simeon, mas também conhecido como Hearst Castle. Era notoriamente envolvido em um caso com a atriz Marion Davies, bem como uma briga pública com Orson Welles sobre o filme Cidadão Kane (1941), que era uma velada crítica fina de Hearst. Hearst foi o avô da famosa vítima de sequestro de Patty Hearst (ele morreu antes dela nascer) ... Uma anedota famosa envolve o correspondente Frederic Remington que escreveu a Hearst a partir de uma Cuba pacífica em 1898, pedindo para voltar para casa. Hearst escreveu de volta: "Por favor, permaneçam. Você fornece as fotos e eu forneço a guerra.". http://www.who2.com/williamrandolphhearst.html.

Roberto Marinho, nasceu em 3/12/1904, no Rio de Janeiro e faleceu 6/08/2003, Rio de Janeiro. Proprietário do maior conglomerado de comunicação do Brasil e um dos maiores do mundo, as Organizações Globo, Roberto Marinho foi um dos homens mais poderosos e influentes do país no século 20. Em sete décadas de trabalho, atuou nas mídias de rádio, televisão, jornal, editora, produção de cinema, vídeo, internet e distribuição de sinal de TV paga e de dados. Suas empresas atravessaram a virada do século 21 com mais de 15 mil funcionários e faturamento de aproximadamente US$ 2 bilhões, tornando-se um dos homens mais ricos do mundo, segundo a revista Forbes.
Filho do jornalista Irineu Marinho Coelho de Barros e Francisca Pisani Barros, Roberto Pisani Marinho nasceu no Rio de Janeiro no dia 3 de dezembro de 1904 e teve mais quatro irmãos, dois homens e duas mulheres.
Educado na Escola Profissional Sousa Aguiar e nos colégios Anglo-Brasileiro, Paula Freitas e Aldridge, o empresário teve sua vida sempre ligada ao jornalismo. Em 1911, seu pai fundou o jornal A Noite, o primeiro vespertino moderno no Rio de Janeiro, que logo conquistou a liderança de vendas entre os vespertinos da então capital da república.

Início do Império Globo: após vender A Noite, Irineu Marinho lançou o jornal 'O Globo', também vespertino, no dia 29 de julho de 1925, com uma tiragem de 33.435 exemplares. Nessa época, Roberto Marinho, com 20 anos, foi trabalhar com o pai, atuando como repórter e secretário particular. Apenas 21 dias depois do lançamento do jornal, Irineu Marinho morreu de infarto enquanto tomava banho em sua casa. Apesar da pressão da família para assumir a direção do vespertino, Roberto Marinho preferiu deixar o comando da empresa nas mãos do jornalista Euclydes de Matos, amigo de confiança de seu pai. Enquanto isso, continuou trabalhando como copidesque, redator chefe, secretário e diretor. Somente com a morte de Euclydes de Matos é que assumiu a direção do periódico, em 1931. Em oposição ao jornalismo partidário que ainda se praticava em outras mídias, 'O Globo' surgiu como um canal noticioso, defendendo causas populares e a abertura do país ao capital estrangeiro. Apesar de o jornal ser na época o principal meio de comunicação do grupo, o crescimento da empresa aconteceu com a venda de histórias em quadrinhos norte-americanas e de empreendimentos imobiliários. No final de 1944, o empresário comprou a rádio Transmissora e lançou sua primeira emissora, a rádio Globo, que marcou o início da formação do seu conglomerado de mídia. Onze anos depois, ganhou a concessão de sua primeira estação de TV. O início das transmissões do novo canal foi em 1965, quando o jornalista tinha 60 anos, com o início das transmissões do Canal 4, a Globo do Rio. No ano seguinte, o empresário adquiriu em São Paulo a TV Paulista, Canal 5, e começou a formar a rede de mais de 113 emissoras entre Geradoras e Afiliadas.

Dinheiro estrangeiro: como na época não possuía o capital necessário para o novo empreendimento, Marinho se uniu ao grupo norte-americano Time-Life, para quem deu 49% de participação. O grupo trouxe investimentos estimados em US$ 25 milhões e a tecnologias avançadas, que mais tarde seria transformada no chamado "Padrão Globo de Qualidade".
Apesar das críticas e até mesmo da criação de uma Comissão Parlamentar de inquérito para investigar a parceria com o grupo americano, o que era proibido pela constituição, a Rede Globo em apenas cinco anos ganhou projeção nacional e se tornou líder de audiência. Em pouco tempo, a emissora já obtinha mais 75% do total de verbas publicitárias destinadas à mídia televisão. Em 1977, já com o seu império de mídia consolidado, construiu uma fundação com o seu nome, destinada à promoção da cultura e educação no país.
Ao longo de sua vida, Roberto Marinho teve grandes adversários, como Assis Chateaubriand, Carlos Lacerda, Samuel Wainer e Leonel Brizola, frutos de suas conflituosas relações com o poder, o qual muitas vezes foi acusado de ser conivente, principalmente durante o período da ditadura militar, período onde ocorreu o grande crescimento de suas empresas.

Vida pessoal: casado por três vezes, Roberto Marinho teve quatro filhos, todos frutos de seu casamento com sua primeira esposa, Stela Marinho: Roberto Irineu, José Roberto, João Roberto e Paulo Roberto.No Réveillon de 1970, seu filho Paulo Roberto, à época com 19 anos, morreu em um acidente de carro, na região dos Lagos, no Rio de Janeiro. O jornalista também foi casado com Ruth Marinho, sua segunda mulher, e, em 1984, casou-se com Lily de Carvalho, com quem viveu o restante de sua vida.
Com a idade avançada, em 1998, Roberto Marinho se afastou do comando das empresas e dividiu com seus filhos o poder das Organizações Globo: Roberto Irineu passou a supervisionar a televisão, enquanto João Roberto passou a dirigir o jornal e José Roberto, o sistema de rádio. Em 1993, candidatou-se à vaga da cadeira de número 39 da Academia Brasileira de Letras, que antes pertencia ao também jornalista Otto Lara Rezende, sendo eleito no dia 22 de julho de 1993. Apesar de não possuir uma carreira literária, tornou-se "imortal" pelos "serviços prestados ao rádio e à televisão brasileira", com 34 dos 37 votos dos acadêmicos.
O jornalista Roberto Marinho morreu, aos 98 anos, no dia 6 de agosto de 2003. Ele estava em sua casa, no Cosme Velho, pela manhã, quando sofreu um edema pulmonar, provocado por uma trombose. O empresário foi, então, internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Samaritano, em Botafogo, mas não sobreviveu.
Simon Hartog Raoul, o cineasta, nasceu em Londres em 08 de fevereiro de 1940, casou-se Antonella Ibba, e morreu em Londres em 18 de agosto de 1992. Nasceu na Inglaterra, mas foi educado em Chicago a partir de oito anos de idade, após seus pais se divorciaram. O risco de ser convocado para o Vietnã o levou de volta à Europa na década de 1960. Estudou cinema de decisões no Centro Sperimentale (a escola de cinema italiana em Roma). Atuou em The War Game de Peter Watkins (jogando o GI nervoso que provocou o ataque nuclear); foi produtor / diretor de Panorama, fazendo programas de Ronald Reagan, o Evenements em maio de 1968 em Paris e Censura. Os editores do programa mostraram-se receptivos a algumas de suas outras propostas e em breve deixou a BBC para ser freelance. Foi membro fundador dos cineastas London' Co-op', até hoje é a única organização desse seu tipo no país que serve as necessidades dos independentes avant-garde. Mas os interesses Hartog eram demasiado amplo para ser limitado pelo idealismo hippie que era tudo que havia no Co-op em seus primeiros dias, e ele tomou uma série de outros trabalhos, de pesquisa, um relatório sobre a nacionalização possível da indústria cinematográfica para o ACTT união da indústria para ajudar a editar a revista de cinema de curta duração Cinema Rising. Nos anos setenta, depois de sua passagem em Moçambique, foi ativo na pressão do grupo que fez campanha para uma verdadeira, independente e inovadora Channel 4.Praticamente toda a obra de Simon Hartog na última década foi com ou para o Channel 4. Um de seus episódios para a série de visões, é um programa sobre censura e política no Brasil, filmado durante uma pausa em sua batalha contra a leucemia e editado a partir de seu leito no hospital.. É uma devastadora exposição sobre o papel que a TV Globo teve como apoiadora do governo ditatorial.Infelizmente, não viveu para ver a sua transmissão.
O nosso Código Civil, logo em seu 1º artigo, tipifica: “Toda pessoa é capaz de DIREITOS E DEVERES na ordem civil. Portanto todo ente humano é pessoa; todo homem é capaz de direitos e obrigações, mas não somente o homem. Também participam da vida jurídica, certas criações sociais, que são as pessoas jurídicas”. Logo começar um documentário esquecendo esse direito da pessoa, baseado apenas em um cartão de visita que provavelmente ainda não tivesse sido atualizado, antecipa o objetivo claro do documentário de denegrir a personalidade jurídica e física do brasileiro Roberto Marinho.
“Em 1953, no 20º Congresso do Partido Comunista da URSS, o sucessor de Stalin, Kruschev, denuncia o "culto da personalidade" stalinista e os crimes e atrocidades atribuídos a Stalin. Político duro e sem escrúpulos. Stalin usou seu poder para destruir todos os que surgiram em seu caminho. Temido e admirado, é, muitas vezes, retratado como um homem de inteligência medíocre, que conseguiu seu poder graças, exclusivamente, à esperteza impiedosa. Essa avaliação, contudo, é uma subestimação, pois a ideologia concebida por Stalin - que passou à história com o nome de stalinismo - teve grande importância na consolidação do regime soviético e de suas terríveis injustiças”. Daí excedeu-se o memorável Leonel Brizola ao comparar Roberto Marinho a Stálin, haja vista as divergências nas vidas, nos fatos e acontecimentos vivenciados por eles.
“William Randolph Hearst, inspiração do filme “Cidadão Kane”, era um garoto rico, quando herdou em 1887 o controle do San Francisco Examiner e a mineradora. Hearst e passou a construir um império editorial que incluiu jornais, revistas, serviços de notícias, emissoras de rádio e estúdios de cinema. Era um praticante descarada do ‘jornalismo amarelo’, ao contrário de Roberto Marinho que herdou de seu pai Irineu Marinho o jornal 'O Globo’. Nessa época, Roberto Marinho, com 20 anos, foi trabalhar com o pai, atuando como repórter e secretário particular. Apenas 21 dias depois do lançamento do jornal, Irineu Marinho morreu de infarto enquanto tomava banho em sua casa. Apesar da pressão da família para assumir a direção do vespertino, Roberto Marinho preferiu deixar o comando da empresa nas mãos do jornalista Euclydes de Matos, amigo de confiança de seu pai. Enquanto isso, continuou trabalhando como copidesque, redator chefe, secretário e diretor. Somente com a morte de Euclydes de Matos é que assumiu a direção do periódico, em 1931.
Com certeza é bem perceptível a diferença do nosso documentário para o filme “Cidadão Kane” e para os personagens reais que os inspiraram. Quem encomendou a produção? A BBC? O Channel 4? Que objetivos reais se escondem por trás de sua produção? A quem interessaria deter o avanço inconteste das comunicações no Brasil.? Segundo consta, os trabalhos produzidos por Simon Hartog na última década foram para Shannel 4, embora o mesmo tenha sido free-lance
Adiando a revelação desses importantes detalhes, o documentário apresenta uma redação bastante irônica, apesar de verdadeira sobre a realidade brasileira, sendo seu maior alvo, o irritante sucesso de Roberto Marinho a começar pela logomarca da emissora e de seu “plim-plim” a cada intervalo a que chamaram de “repetição excessiva de sua identidade na tela”. Contudo, programas e telespectadores não foram dispensados, pois assistir a “sexy” Xuxa, era motivo de formação alienada; assistir Faustão era cultura inútil pois transmitia quadros “bobocas” e tragédias domésticas e o Fantástico trazia notícias, diversão e um falso otimismo.
Convém relembrar os Eventos marcantes da Década de 60: – Invasão da Baía dos Porcos; – Crise dos Mísseis de Cuba; – Aquecimento da corrida espacial; – Revolução Cultural na China; – Guerra dos Seis Dias; – Início da Guerra do Vietnã. Por falar em Guerra do Vietnã, o roteirista do documentário, Simon Hartog Raoul, que tinha vindo da Inglaterra para Chicago com oito anos de idade, após seus pais se divorciarem, fugiu em 1960 para Europa, por causa do risco de ser convocado para o Vietnã. É contraditório para alguém tão entusiasta em registrar documentários, sua atitude, pois parece fácil fazer documentários depois que a Guerra passa. E o Brasil vivia uma guerra. E no meio desta Guerra estava Roberto Pisani Marinho.
Após a II Guerra Mundial, o mundo dividiu-se em dois blocos: o capitalista e o socialista, iniciando a famosa Guerra Fria. De um lado, os Estados Unidos da América e seus “prováveis aliados” e do outro a União da República Socialista Soviética, com seus “livres adeptos”. Vietnã, Cuba, Brasil, não foram poupados. A reação norte americana encontrou na Escola Nacional Americana de Guerra seu maior foco de resistência capitalista, que inspirando o Brasil criou a Escola Superior de Guerra formada por militares, empresários e políticos. Qual deveria ser o comportamento de nosso brasileiro Roberto Marinho? De quais opções de escolha dispunha. Por falar em opção é recomendável lembrar o que o nosso Código Penal fala sobre a EXIGIBILIDADE DA CONDUTA DIVERSA: Cometer o crime ou não cometer? Para Roberto Marinho havia outra opção? O Mundo não estava limitando nossos direitos constitucionais básicos, como viver, pensar, decidir, locomover, investir, sonhar?
O último Presidente da Ditadura Militar ao expressar seu desejo de fazer deste país uma verdadeira democracia, com certeza elencou em seus objetivos a vontade da soberania. Soberania que com certeza o documentário avilta, pois ao ser penalizado pela Comissão Parlamentar de Inquérito por desrespeitar a lei buscando recurso estrangeiro, tendo seu contrato anulado, Roberto Marinho provou sua capacidade administração, pois mesmo com o incêndio de sua emissora em São Paulo, continuou seu projeto empreendedor. Portanto, conviver aliado ao sistema dominante ajudou muito, mas não foi só isso, pois concluíram tratar-se de um “astuto empresário e um realista”. Roberto Marinho soube conviver com o regime imposto, pois caso não conseguisse,poderia ter terminado como o Presidente Kennedy, assassinado e com certeza o Brasil não seria o país que hoje é, com tantos canais de televisão, principalmente, vindo da iniciativa privada como é a Rede Vida. Mesmo sendo público e notório o conflito entre a Record, da Igreja Universal e a Rede Globo, a capacidade de administração iniciada por Valter Clarck continua pois sua contribuição para nosso desenvolvimento, para a vida, é maravilhoso, tanto que consagrou nosso jornalista como imortal da Academia Brasileira de Letras. Rede Globo é a nossa história. REDE GLOBO é a nossa vida, conseguida pelo sangue de heróis anônimos, civis e militares, que não tendo uma terceira opção, por elas lutaram. Vida construída nos sindicatos vivos, que por sua perseverança levaram o Brasil à mudança com Luís Inácio Lula da Silva. Roberto Marinho, que sua habilidade inspire outros jornalistas a agirem em favor da maioria, quando sistemas considerados injustos se implantarem, pois muito além do horizonte festejaremos o gosto saboroso da DEMOCRACIA.
O documentário pode ser utilizado por jornalistas, acadêmicos, políticos, militares, direito humanos, historiadores e tantos outros que buscam a verdadeira história..
O Roteiro de Simon Hartog Raoul, atinge rapidamente um grande número de pessoas de todas as classes sociais, particularmente estudantes acadêmicos, sendo de grande contribuição para nosso espírito patriótico, profissional e humanitário.

Bibliografia:

NERY, Lana Karina Pinon. Apostila Direito Civil I. Pessoa Física ou Natural e Direitos de Personalidade. Macapá: out, 2010.
Disponível: http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u354.jhtm
Disponível:http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,5270-p-21750,00.html.
Disponível:http://www.youtube.com/watch?v=iagQB4YEkjk ,18/102010, 10h14m.
Automação Telejornalismo :Exibidores de vídeo para telejornal Playout, Ingest, 4. 4.Storage Censura www.snews.com.br.
ZAHAR, Jorge. Enciclopédia Mirador Internacional. Dicionário do Pensamento Marxista .

ANTONIO MONTEIRO DO CARMO, é acadêmico do Curso de Direto, II semestre da FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ DO AMAPÁ, 2010.

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